Bombou no g1: áudios inéditos mostraram conversas entre pilotos e controle minutos antes de queda de avião em Vinhedo

  • 27/12/2025
(Foto: Reprodução)
Queda de avião em Vinhedo: áudios inéditos mostram conversa entre pilotos e controle aéreo Os áudios inéditos que revelam as conversas entre pilotos e o controle aéreo minutos antes da queda do avião da Voepass, em Vinhedo (SP), em agosto de 2024 trouxeram novos detalhes sobre o acidente e repercutiram entre os leitores. Ao longo de dezembro, o g1 revisita histórias reais, curiosas e impactantes que marcaram 2025. Veja o áudio acima, leia o texto abaixo e explore outras reportagens no mapa ao final desta página. Esta reportagem foi originalmente publicada em agosto de 2025. O material, revelado pelo g1 um ano após o acidente, mostrou que, apesar do contato constante com os controladores, em nenhum momento os pilotos indicam qualquer tipo de pane ou emergência. As falas são tranquilas e seguem o padrão de comunicação esperado para uma aproximação para o pouso. '81 segundos': ASSISTA ao documentário sobre a tragédia aérea O g1 teve acesso à troca de mensagens em duas frequências diferentes, utilizadas conforme a posição da aeronave no espaço aéreo, e cruzou com as informações das caixas-pretas. As últimas comunicações externas dos pilotos, feitas em uma terceira frequência, não estão nos áudios obtidos. 🔎 Essa troca de frequências é um procedimento comum na aviação e ocorre à medida que o avião cruza regiões sob responsabilidade de diferentes centros de controle. O que revelaram os áudios As mensagens trocadas entre a tripulação do voo e o controle de tráfego aéreo revelaram a sequência de instruções e respostas nos minutos finais antes da queda. A comunicação começou às 13h14min21s, com uma orientação para mudança de frequência. 13h14min21s Controle: “Passaredo 2283, por gentileza, chame o controle de São Paulo na frequência 135,75 MHz”. Piloto: “135,75, vai chamar Passaredo 2283. Obrigado”. 13h14min36s (já na nova frequência) Piloto: “São Paulo, Passaredo 2283, informação Sierra” (Sierra é a letra “S” no alfabeto fonético usado na comunicação na aviação. Aqui, ele dizia estar ciente sobre as informações meteorológicas do aeroporto de destino, que são divulgadas gradualmente ao longo do dia, nomeadas por letras) 13h14min40s Controle: “Passaredo 2283, confirme como recebe o controle”. Piloto: “Com eco, senhora”. 13h14min49s Controle: “Ok, Passaredo 2283, por gentileza retorne à frequência 120,925 MHz”. Piloto: “120,925 vai retornar”. 13h14min59s (de volta à frequência anterior) Piloto: “São Paulo, Passaredo 2283”. Controle: “Passaredo 2283, grata pela gentileza. Mantenha nível 170 [5 mil metros de altitude]”. Piloto: “170 vai manter. Não por isso, senhora”. Minutos depois, a tripulação avisou estar no ponto ideal para iniciar a descida, mas recebeu instrução para manter a altitude. Pouco depois, veio o último áudio disponível. 13h18min21s Piloto: “Ponto ideal de descida, o Passaredo 2283”. Controle: “Passaredo 2283, mantenha nível 170”. Piloto: “Mantendo nível 170, Passaredo 2283”. 13h18min53s Nesse momento, o painel tinha acabado de indicar pela primeira vez, segundo a caixa-preta, o alerta de que a aeronave estava perdendo velocidade, mas não há menção a esse fato. Controle: “Passaredo 2283, chame o controle São Paulo na frequência 123,25”. Piloto: “123,25 vai chamar o 2283. Obrigado”. Cerca de 30 segundos depois dessa comunicação, o painel indicou mais um alerta, agora de um segundo estágio, mais grave, de perda de velocidade da aeronave. Linha do tempo mostra comunicações de pilotos do voo 2283 com controle aéreo antes da queda Gabriella Ramos/g1 O que não está nos áudios O g1 não teve acesso aos primeiros contatos da aeronave com o Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP), por volta das 13h05, nem às comunicações finais, a partir das 13h19min07s, quando os pilotos mudaram a frequência. Nessas últimas mensagens, que constam descritas no relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), os pilotos fizeram uma nova chamada, informaram estar no ponto ideal de descida e seguiram recebendo orientações para manter o nível de voo. Também não houve, nesses momentos, qualquer indicação de emergência ou situação fora do normal, segundo o Cenipa. Comprometimento da aeronave e alertas na cabine Apesar da comunicação protocolar com a torre, o relatório preliminar do Cenipa, elaborado com base nas informações das caixas-pretas, revelou que, dentro da cabine, o acúmulo de gelo já vinha comprometendo o desempenho da aeronave. LEIA MAIS: Avião da Voepass teve falha omitida em diário de bordo horas antes de decolar, diz testemunha Alertas luminosos e sonoros de detecção de gelo e de queda na velocidade surgiram no painel do ATR 72-500 da Voepass enquanto a tripulação se comunicava com o controle de tráfego aéreo, com passageiros e com uma comissária. Veja a seguir alguns cruzamentos das informações de comunicação dos pilotos com o que acontecia na aeronave no mesmo momento. Às 13h17min20s (3 min e 49 segundos antes da perda de controle do avião) Avião: o relatório aponta que o detector de gelo que estava aceso tinha acabado de se apagar. Pilotos: nesse momento, o copiloto estava solicitando informações à comissária a fim de transmiti-las ao despachante operacional. Às 13h17min32s (3 minutos e 37 segundos antes de a aeronave perder o controle) Avião: o aviso do detector de gelo voltou a aparecer no painel. Pilotos: nesse momento, o comandante estava informando os passageiros sobre as condições e o horário previsto para o pouso em Guarulhos. Às 13h18min41s (3 minutos e 8 segundos antes de a aeronave perder o controle) Avião: desacelera para a velocidade de 353 km/h e, com isso, é exibido o alerta “CRUISE SPEED LOW”, com tom sonoro único, sinalizando aos pilotos que o gelo está impedindo que o avião mantenha a velocidade que foi programada para o voo. Pilotos: o copiloto “estava terminando de repassar algumas informações ao despacho operacional”, segundo o relatório. Às 13h18min55s (2 minutos e 14 segundos antes de a aeronave perder o controle) Avião: um tom de alarme único foi ouvido na cabine. Pilotos: Simultaneamente, o comandante falava com o controle de tráfego aéreo. Às 13h19min28s (1 minutos e 41 segundos antes de a aeronave perder o controle) Avião: a velocidade do avião cai para 340 km/h, e, com isso, é exibido o alerta “DEGRADED PERFORMANCE”, que indica que a performance do avião está degradada por conta da formação de gelo na aeronave. Pilotos: o alarme, segundo o relatório, “foi acionado concomitantemente com as trocas de mensagem entre o APP-SP [controle de tráfego aéreo] e a tripulação”; Às 13h20min00s (1 minuto e 9 segundos antes de a aeronave perder o controle) Pilotos: o copiloto comentou: “bastante gelo”; Avião: 5 segundos depois o sistema de degelo é ligado por eles Às 13h21min09s O controle da aeronave foi perdido. Às 13h22min30s Colisão com o solo. Escombros de avião em Vinhedo (SP) neste sábado, dia 10 de agosto de 2024 Nelson Almeida/AFP 'Cintos atados', disse copiloto em 1º trecho da viagem Horas antes da queda, durante o voo de ida para Cascavel, o copiloto do 2283, Humberto Alencar, enviou um áudio à esposa relatando as condições meteorológicas. Na gravação, ele mencionou turbulência e formação de gelo no trecho. “Foi tudo bem, graças a Deus, tirando a turbulência, né? 90% turbulência, gelo. 90% do voo foi com o cinto atado, sinal luminoso de cintos atados. Mas foi tudo bem. A gente conseguiu tomar um cafezinho, pelo menos, conversamos bastante", contou. Avisos de outros pilotos Além dos sinais de gelo detectados na própria aeronave, houve pelo menos três relatos ao controle de tráfego aéreo de São Paulo sobre formação de gelo na região em horários próximos ao acidente. Os áudios a seguir também foram obtidos pelo g1: Às 13h15, cerca de sete minutos antes de o voo 2283 colidir com o solo, a aeronave TAM 3361 informou: “Gelo moderado nível 190 próximo ao GR249 [região perto de Viracopos].” O controle respondeu: “Ciente, TAM 3361, desça para nível 170 sem restrição.” Às 13h26, cerca de quatro minutos após o acidente, o voo 2325 relatou: “449 está pegando gelo desde EVRAL [região próxima a Itu].” Às 13h27, cerca de cinco minutos após o acidente, o controle avisou o Gol 7481: “Desça ao nível 140. Fique atento, foi reportado gelo aí a cerca de 12 horas [expressão que indica que há algo à frente], mais ou menos na posição 252.” O piloto respondeu: “Gelo leve, estamos cientes.” Gravador de voz do avião da Voepass que caiu com 62 pessoas a bordo Jornal Nacional/Reprodução O gelo e a queda Desde o dia do acidente, especialistas ouvidos pelo g1 e pela GloboNews afirmaram que a formação de gelo no avião pode ter sido um fator para a queda, mas que não existe um fator único que cause um acidente. O Cenipa evitou apontar uma linha principal de investigação, mas o relatório preliminar do órgão citou a averiguação dos sistemas de degelo da aeronave e a análise do desempenho técnico dos tripulantes como "linhas de ação" dos investigadores para a construção do relatório final. O relatório final não tem prazo para ser divulgado, mas o Cenipa informou à EPTV, afiliada da TV Globo no interior de São Paulo, que as equipes trabalhavam para entregar as conclusões até o fim de 2025. O acidente O avião com 58 passageiros e quatro tripulantes caiu no condomínio Residencial Recanto Florido, no bairro Jardim Florido, no início da tarde. A aeronave decolou às 11h58 e o voo seguiu tranquilo até 12h20. Segundo a plataforma Flightradar, avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude. Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca. Às 13h22 — um minuto depois do horário do último registro — a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros. A velocidade dessa queda foi de 440 km/h. A aeronave atingiu o quintal de uma casa do condomínio e os moradores saíram ilesos. Ninguém em solo ficou ferido. O morador da residência atingida afirmou que a família ficou em choque. O que diz a Voepass Em nota, a Voepass informou que a queda do voo 2283 foi “o episódio mais difícil” da história da companhia e que, um ano após a tragédia, segue “solidária às famílias das vítimas”, mantendo “suporte psicológico ativo” e apoiando homenagens realizadas ao longo do período. Confira abaixo as duas notas enviadas pela Voepass à reportagem Nota 1 No dia 9 de agosto de 2024, vivemos o episódio mais difícil de nossa história. A queda do voo 2283, na região de Vinhedo (SP), resultou em perdas irreparáveis. Um ano depois, seguimos solidários às famílias das vítimas, compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória e em nossa atuação diária. Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente. Desde o início de nossa trajetória, sempre priorizamos a segurança, o respeito à vida e a integridade em todas as nossas decisões. A tragédia nos impactou profundamente e mobilizou toda a nossa estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, nossa prioridade. Nas primeiras horas após o acidente, formamos um comitê de gestão de crise e trouxemos profissionais especializados — psicólogos, equipes de atendimento humanizado, autoridades públicas, seguradoras, além de suporte funerário e logístico. Desde o início, nosso cofundador, José Luiz Felício Filho, esteve à frente das ações, participando pessoalmente das reuniões com os familiares. Também apoiamos a participação das famílias na primeira reunião oficial com o CENIPA para a apresentação do relatório preliminar. Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos empenhados na resolução das questões indenizatórias, já em estado bastante avançado. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Nos solidarizamos com toda a forma de homenagem às vítimas do acidente. Seguimos colaborando com as investigações em andamento, reafirmando nosso compromisso com a apuração dos fatos e contribuindo com a melhoria contínua nos processos de segurança da operação aérea. Continuamos caminhando com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme — com os familiares das vítimas, com toda sociedade brasileira. Nota 2 A VOEPASS informa que sempre atuou cumprindo com as exigências rigorosas que garantem a segurança das suas operações aéreas e reitera que sua frota sempre esteve aeronavegável e apta a realizar voos, seguindo exigências de padrões de segurança internacionais, inclusive tendo a certificação IOSA, um requisito de excelência operacional emitido apenas para empresas auditadas IATA, além do acompanhamento periódico da ANAC como agência reguladora. Em 30 anos de atuação, em um setor altamente regulado, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi a prioridade máxima da companhia. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/12/27/bombou-no-g1-audios-ineditos-mostraram-conversas-entre-pilotos-e-controle-minutos-antes-de-queda-de-aviao-em-vinhedo.ghtml


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