Enchente do Rio Envira destrói plantações de banana em comunidade indígena no Acre
30/12/2025
(Foto: Reprodução) Enchente do Rio Envira destrói plantações de banana em aldeia no Acre
Indígenas da etnia Huni Kuin que vivem na Aldeia Paroá Central, zona rural de Feijó, interior do Acre, perderam mais de 10 mil pés de banana com a cheia do Rio Envira. Equipes da Defesa Civil Municipal estiveram na comunidade na tarde dessa segunda-feira (29) para contabilizar os estragos da enchente.
A água invadiu a parte da frente da aldeia e as plantações. Imagens do órgão municipal enviadas ao g1 nesta terça (30) mostram o campo de futebol e algumas plantações tomados pelas águas. (Veja vídeo acima)
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O Rio Envira começou a encher na noite de domingo (28) e águas logo chegaram ao bairro Terminal. Duas famílias, totalizando oito pessoas, foram retiradas de casa e levadas para um abrigo montado em uma escola municipal. Os moradores seguem no abrigo até esta terça, mas o manancial já apresenta sinal de vazante e chegou a 12,10 metros, três centímetros acima da cota de transbordo.
O coordenador da Defesa Civil Municipal de Feijó, sargento Adriano Souza, explicou que mais de 90 famílias indígenas foram atingidas pela enchente na Aldeia Paroá Central. Na tarde dessa segunda, o sargento contou que as equipes desceram até a região Baixo Rio, onde ficam cerca de oito comunidades indígenas.
Indígenas perderam as plantações de banana durante a cheia do Rio Envira
Arquivo/Defesa Civil de Feijó
"O roçado deles está debaixo d'água. Falaram que plantaram dez mil pés de banana e perderam tudo. A gente foi lá fazer um levantamento das necessidades, da quantidade de famílias que moram nas redondezas. Verificamos as aldeias mais atingidas, onde já tinha informação de que a Aldeia Paroá Central era a mais atingida por ser mais baixa. Constatamos essas informações, o campo de jogo deles está bem afetado, necessitam de água potável de recuperarem a plantação", destacou.
Ainda segundo o coordenador, as águas estavam em uma distância de 10 metros para chegar às residências dos indígenas. "A água chegou na parte da frente, onde fica o campo. Acho que invadiu umas duas hectares alagadas. As demais aldeias ficam muito às margens da borda do rio, então, constantamos que essa é a mais afetada", contou.
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Arquivo/Defesa Civil de Feijó
Segunda enchente no ano
O sargento explicou também que essa é a segunda vez no ano que os indígenas perdem o roçado. Em abril, quando o município decretou situação de emergência, as águas do Rio Envira destruíram a plantação de banana, principal cultivo da comunidade.
"Em abril foram muitos afetados e agora em dezembro. Segundo relatos do Corpo de Bombeiros, há mais de 20 anos não tinha essas ocorrências de enchente. É algo raro de acontecer, esse mês de dezembro foi muito chuvoso. Quase todo dia chove aqui em Feijó, tanto na área urbana como rural", complementou.
Campo de futebol que ficam em frente à aldeia está tomado pelas águas
Arquivo/Defesa Civil de Feijó
Adriano Souza revelou que a Defesa Civil de Feijó está sem o pluviômetro, instrumento utilizado para coletar e medir chuvas. Sem o equipamento, o coordenador não sabe a quantidade de chuva registrada no município em dezembro. "Infelizmente, fizeram uma manutenção, mas não resolveu. Estamos às cegas", lamentou.
O sargento acrescentou que será feito um levantamento completo dos estragos registrados na zona rural para que a assistência seja levada até os indígenas no início de janeiro. "A zona urbana a gente consegue assistir, mas as pessoas que ficam isoladas, mesmo quando o rio não enche tanto, são da zona rural. Então, esse ano buscamos ter um olha diferencial para eles para levar assistência", finalizou.
Vazante
O Rio Envira apresentou vazante em Feijó nesta terça-feira (30), contudo, segue acima da cota de transbordo, que é 12 metros.
O manancial transbordou nessa segunda (29), quando chegou a 12,08 metros. Cerca de 30 residências foram afetadas nos bairros Aristides, Bairro do Hospital e Terminal.
Rio Envira apresenta vazante em Feijó nesta terça-feira (30)
Duas famílias - com oito pessoas - estão desabrigadas e foram encaminhadas ao abrigo municipal, instalado na Escola Peti, no bairro Cidade Nova. Elas saíram de casa no domingo (28), quando o manancial começou a subir. Não há registro de famílias desalojadas.
A Defesa Civil da cidade confirmou ao g1 nesta terça que não houve mais retirada de famílias para o abrigo montado. "Recebem toda assistência necessária, como alimentos, medicação e permanecem porque o rio segue acima da marca de transbordo. As equipes permanecem monitorando o nível do rio e acompanhando as famílias das áreas de risco", explicou o coordenador.
Decreto de emergência
Feijó é uma das cidades listadas no decreto de emergência do governo estadual. Em meio a cheia de rios e igarapés em várias regionais do estado, o governo decretou situação de emergência em cinco municípios nessa segunda-feira (29).
A medida cita emergência de nível 2 e abrange Feijó, Plácido de Castro, Rio Branco, Santa Rosa do Purus e Tarauacá, municípios com os rios em transbordamento.
O documento, assim como na versão municipal, pontua a quantidade de chuvas acumuladas, principalmente desde o dia 24 de dezembro. Em Rio Branco choveu, até este domingo (28), um total de 483 milímetros, sendo que a média esperada para o mês era em torno de 265 milímetros.
A quantidade reflete em um acumulado total de 97% de chuvas acima do esperado para todo o mês.
Outro ponto citado pela medida, assinada pela governadora em exercício Mailza Assis (PP), é de que as chuvas em Brasiléia já acumularam um total de 436,80 mm em dezembro, sendo que a média esperada para o período é de 222mm. Com isso, o volume no município está 82% acima da estimativa.
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