Griô senegalês mantém viva a tradição africana em Mogi das Cruzes

  • 20/11/2025
(Foto: Reprodução)
Seck é senegalês e disse que em sua família a tradição griô passa de geração em geração Saliou Seck/Arquivo Pessoal O griô carrega o conhecimento e a história de seu povo. A tradição nasceu na África e atravessou o oceano até chegar ao Brasil, onde permanece compartilhando sua oralidade. Saliou Diagne Seck, de 38 anos, é do Senegal e faz parte de uma linhagem de griôs. O griô é um contador de histórias que atua como guardião da memória das comunidades. Ele preserva e transmite informações sobre a história das famílias, tradições, mitos e acontecimentos importantes, muitas vezes acompanhado de música. Há dois anos e meio, Seck mora em Mogi das Cruzes. Ele afirma que carregar a história de seu povo é mais do que uma missão. ✅ Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp No Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20), essa tradição mostra que a miscigenação valoriza a ancestralidade de povos africanos e destaca a importância da oralidade na cultura afro-brasileira. “Na minha família, não se torna griô, nasce-se griô. É uma missão, uma responsabilidade espiritual e cultural”, afirma o senegalês. Seck contou que essa tradição é passada de geração em geração em sua família e está presente em países como o Senegal, Mali, Burkina Faso, Guiné e Costa do Marfim. "A tradição griô não é algo que se aprende e nem uma escolha. É um sistema social e hereditário. É uma função que é transmitida dentro de famílias específicas, que pertencem a uma linhagem griô desde os tempos do Império Mali." O professor de história da África da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Marcussi, explica que em todo continente africano existe a figura do contador de histórias orais, mas o termo griô é exclusivo da África Ocidental. “Essa palavra é específica desse lugar e ela designa um tipo de profissão, um ofício de tradição. Pessoas especialistas em guardar as histórias dos reinos e sociedades, dos mitos e saberes. Outras sociedades africanas também têm esses profissionais. O nome griô ficou famoso, porque foram pesquisadores franceses que estudaram o local”. Veja também Roteirinho do Patrimônio tem edição especial da Consciência Negra Marcussi destaca ainda que a formação dos griôs mudou muito de acordo com a escrita, com os meios de comunicação e com a colonização europeia. Atualmente, o termo é usado para se referir a vários contadores de histórias com inspiração africana, não só ao ofício tradicional. Segundo Seck, o griô não é apenas um contador de histórias, ele é uma escola viva. Em algumas tradições, os griôs falam e ensinam por meio da palavra. No caso de dele é pela música, e sempre com o coração. “Desde criança, vivi cercado por palavras, cantos, tambores e respeito pelos mais velhos. Os antigos me ensinaram a escutar, a compreender o poder da palavra, do ritmo e do silêncio. Ser griô é carregar a voz da ancestralidade através do tempo. E não é uma escolha, é uma responsabilidade e uma herança”, destacou. Para o griô senegalês, quem fala são os instrumentos. É como se frases fossem feitas pelos toques dos tambores. “Há cantos também, que acompanham os ritmos. Mas há muito a ser dito e a ser transmitido se usar a palavra falada. E eu acho que as pessoas precisam saber disso e aprender a escutar sabedorias de outros jeitos”. Seck leva a ancestralidade de seu povo por meio dos instrumentos que toca Saliou Seck/Arquivo Pessoal Vivendo no Brasil há três anos, Seck deixou seu país com a missão de transmitir a mensagem de seus ancestrais e compartilhar sua cultura para garantir que a verdadeira tradição não desapareça. Dessa forma, ele compartilha sua ancestralidade em terras tupiniquins, ensinando e tocando. “Não é só por lazer ou diversão. Eu passo mensagens em cada toque. Se você for me ver tocar algum dia e escutar bem, você vai saber que tem palavras sendo ditas”. Ele acredita que o Brasil ainda tem muito a aprender com a cultura afro-brasileira. “Compartilho e faço arte e cultura como ponte entre os povos”. Formado em ballet afro contemporâneo, Seck iniciou aos 10 anos na dança no grupo de sua família. Depois, passou por companhias do Senegal, como a Cie Wakondo, e foi músico da École des Sables, onde ficou por 11 anos até vir ao Brasil. Hoje ele atua como griô, músico e educador cultural. “Também faço oficinas e dou aulas de percussão tradicional da África Ocidental e falo para meus alunos que eles também têm mensagens a passar”. Papel do griô na cultura afro-brasileira Embora a palavra griô seja derivada do grupo linguístico mande, que formou os povos de Mali, Burkina Faso, Guiné, Guiné-Bissau, Senegal, Gâmbia e Mauritânia, e deixaram poucas heranças ao Brasil, essa figura do contador de histórias africanas sempre esteve presente na cultura brasileira. De acordo com o professor de história da África da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Marcussi, a cultura brasileira teve influência de outras regiões africanas que também tinham pessoas que transmitiam conhecimentos, história e mitos, passados de geração em geração em vários tipos de manifestação. “Como em terreiros, congadas, jungos, tem a marca desse tipo de ofício do contador de história. No século XXI, teve um resgate dessa palavra pra pessoas que fazem performance de narrativas inspiradas em histórias africanas”. Essa figura surgiu em um momento em que o papel da escrita era limitado, muitos povos nem a usavam. Por isso, segundo Marcussi, a história das comunidades era registrada por griôs, que eram equivalentes a estudiosos. “São sempre diferentes, em cada momento da história, as funções que os griôs ocuparam foram diferentes de acordo com cada época”. Apesar do termo griô ter se difundido recentemente na cultura brasileira, para o pesquisador, a tradição oral sempre esteve no Brasil. Ela não foi resgatada ou reinventada. A a transmissão de histórias africanas no país ocorre desde a época colonial. “A visibilidade vem com as pautas antirracistas das últimas décadas e a valorização que essas tradições culturais fazem parte da nossa cultura”, relembrou Marcussi. Isso se deve ao esforço no combate ao racismo e à valorização das heranças africanas. Assim como as mudanças que as sociedades sofrem ao longo do tempo. “Parece que a palavra escrita tem um espaço menor do que já teve em relação ao século passado. A gente vê uma presença física, do audiovisual, da mídia, da performance do griô, da oralidade, do olho no olho, isso ganhou muita importância, estamos valorizando ainda mais isso depois da pandemia”, pontuou. A cultura griô tem destaque até nas pesquisas acadêmicas nacionais e internacionais de história. “Já existe no Brasil uma tradição que é mais uma tradição relacionada aos terreiros, aos quilombos, já tem nas pesquisas uma certa tradição dessas histórias orais que passam de geração em geração”. Leia mais Consciência Negra: veja o que abre e fecha nas cidades do Alto Tietê Alto Tietê conta com mais de 6,5 mil vagas de emprego nesta segunda-feira; confira Veja tudo sobre o Alto Tietê

FONTE: https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2025/11/20/grio-senegales-mantem-viva-a-tradicao-africana-em-mogi-das-cruzes.ghtml


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