'Me sinto valorizado'; 'Minha família achou que não dava dinheiro': como é o trabalho de quem cria agentes de IA
11/11/2025
(Foto: Reprodução) Agentes de IA viram aposta das empresas, e quem domina a tecnologia pode ganhar até R$ 20
"O que me fez não desistir foi justamente perceber que era uma área promissora", diz Evellyn Nicole, de 22 anos. Ela é engenheira de inteligência artificial pleno em uma grande empresa do setor elétrico e atua com agentes de inteligência artificial (IA).
🔎 O que são agentes de IA: são programas que executam tarefas automaticamente, como fazer compras ou reservar restaurantes sozinhos. Nas empresas, eles tornam processos mais ágeis, eficientes e produtivos (saiba mais abaixo).
Especialistas confirmam que Evellyn atua em uma área em expansão. Os salários de um engenheiro de IA variam de R$ 19,5 mil a R$ 27,1 mil, segundo o Guia Salarial 2026 da consultoria Robert Half.
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Considerando o setor de inteligência artificial como um todo, a remuneração média em regime CLT vai de R$ 3,5 mil a R$ 20 mil, segundo levantamento da plataforma de empregos Catho feito a pedido do g1.
Em entrevista ao g1, Evellyn preferiu não divulgar o próprio salário, mas afirma estar satisfeita com a remuneração atual.
Apesar das boas oportunidades, o mercado ainda enfrenta escassez de profissionais qualificados. "A demanda por especialistas em IA só cresce há mais de cinco anos, com média anual acima de 20%. No cenário global, pode passar de 30%", diz Cleber Zanchettin, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e estudioso de IA.
O mercado de agentes ainda é novo — tanto que nem existem cargos definidos para essa função —, mas vem evoluindo com os investimentos crescentes das empresas.
Para Raphael Bozza, vice-presidente de pessoas do iFood, "nos próximos três meses, veremos surgir muitos cargos voltados ao trabalho com agentes de IA. Essas pessoas já existem e atuam na prática, mas a função ainda não tem um título formal".
➡️ Entenda o que é agente de IA e por que eles estão em alta:
🤖 Agentes são sistemas de IA generativa, baseados em grandes modelos de linguagem (LLMs) — o "cérebro" por trás de IAs como Gemini, ChatGPT e Copilot — capazes de criar respostas e executar tarefas de forma autônoma, seguindo as metas definidas por quem os desenvolveu.
🚀 Na prática, os agentes podem automatizar atendimento ao cliente, analisar dados de vendas para identificar padrões ou, em obras, ajustar cronogramas considerando clima, equipe e materiais.
🤑 Para as empresas, isso se traduz em maior produtividade, redução de custos e melhoria da experiência do cliente, podendo ser aplicados tanto em processos internos quanto em produtos destinados ao consumidor final.
👩💻 Eles também já estão disponíveis para usuários comuns. Neste ano, a OpenAI liberou para todos os assinantes do ChatGPT seu agente, capaz de reservar restaurantes, fazer compras e executar outras tarefas sozinho.
🧑💼 Os relatos de profissionais que criam agentes de IA
João Gama, de 19 anos, e Evellyn Nicole, de 22, trabalham com agentes de IA.
Arquivos pessoais.
"Quem sabe criar e colocar agentes de IA em funcionamento hoje é muito valorizado. Digo isso por experiência própria", conta João Gama, de 19 anos, técnico em análise júnior em uma empresa de aluguel de veículos, onde ganha R$ 3,6 mil por mês. Ele ainda está estudando sistemas de informação.
João foi um dos responsáveis por desenvolver um agente que analisa automaticamente as fichas de inspeção dos veículos e identifica problemas na frota, como vazamentos de óleo, na locadora onde trabalha.
A ferramenta envia alertas à equipe, eliminando a necessidade de uma análise manual. "O sistema ajuda a detectar falhas rapidamente e torna as decisões mais ágeis", explica o jovem.
"Quem domina a criação desses sistemas tende a se destacar profissionalmente, já que ainda tem poucas pessoas preparadas na área", afirma João. Segundo ele, trabalhar com agentes é uma hard skill, ou seja, uma habilidade técnica cada vez mais valorizada no mercado.
A família de Evellyn Nicole, de 22 anos, demorou a compreender essa escolha. Formada em inteligência artificial pela Universidade Federal de Goiás (UFG), ela atua hoje como engenheira de IA em uma grande empresa do setor elétrico.
Evellyn lembra de uma tia que questionou sua decisão: "Ela disse: 'Ah, mas você é tão inteligente. Por que não faz um curso que dá dinheiro?'. Inclusive, falou que eu deveria ter escolhido carreiras já consolidadas, como medicina ou engenharia", recorda.
A jovem diz que, agora, seus familiares compreendem que a área é promissora. "Agora até surgem alguns comentários: 'Nossa, a Evellyn entrou na hora certa'", conta, rindo.
Agente do ChatGPT reserva restaurante, faz compra, mas erra ao insistir demais
Na empresa onde trabalha, Evellyn desenvolve agentes que automatizam tarefas repetitivas, ajudando analistas e gestores a economizar tempo e focar nas atividades mais importantes. Ela se dedica a criar robôs que entendem perguntas simples e buscam as respostas no banco de dados da empresa.
Assim, qualquer pessoa pode digitar, por exemplo, "quanto vendi hoje?" e receber a resposta na hora, sem precisar programar. Esses agentes funcionam como tradutores: interpretam a pergunta e apresentam o resultado de forma clara.
Evellyn lembra das oportunidades que surgiram logo no início da faculdade, por meio do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) da UFG, que conecta estudantes a empresas interessadas em implementar IA internamente. Segundo ela, foi isso que a fez não desistir da IA, já que tinha insegurança sobre como se desenvolver em um universo tão novo.
Os dois profissionais, contratados em regime CLT, dizem estar satisfeitos com a carreira em IA e destacam o modelo de trabalho. João atua em formato híbrido, indo ao escritório três vezes por semana, o que, segundo ele, "equilibra a vida profissional e pessoal". Já Evellyn trabalha 100% em home office.
"Já recebi propostas para trabalhar no modelo híbrido com salário melhor, mas preferi o conforto do home office", afirma Evellyn.
Entre os desafios da área, João e Evellyn destacam o ritmo acelerado de mudanças da IA, com novidades surgindo quase todos os dias. Por ser um campo ainda novo e com poucos especialistas, muitos profissionais se sentem sozinhos. Também há escassez de livros e materiais publicados no Brasil sobre o tema.
Um dos principais desafios técnicos são as chamadas "alucinações" da IA, quando o sistema gera respostas incorretas ou inconsistentes. Como explica Evellyn: "Um dia funciona, no outro, não". Isso ocorre porque a tecnologia trabalha com probabilidades, exigindo supervisão humana e ajustes constantes.
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Rafael Leal/g1
Profissionais ouvidos pelo g1 dizem que, mesmo profissionais de áreas não técnicas, como finanças, podem criar agentes se tiverem conhecimento profundo dos processos de negócio.
Para começar, é recomendado estudar Python, atualmente a base da IA, e explorar ferramentas de criação de agentes usadas pelo mercado, como Lindy, OpenAI Operator, LangChain, CrewAI, AutogenAI e Langflow.
Professores, executivos e profissionais consultados pelo g1 ainda recomendam que os fundamentos de IA, conceitos de machine learning e linguagem natural, IA generativa e análise de dados, incluindo visualização, são essenciais para quem quer ingressar na área.
Além da formação técnica, o perfil analítico e crítico é fundamental. É necessário compreender o fluxo e os processos que serão automatizados e dominar as regras e objetivos da empresa para programar agentes de forma precisa e eficiente. Graduação e, em alguns casos, pós-graduação ou mestrado em IA também são valorizados pelas empresas.
Como a área é muito ágil, atualização constante é crucial. É recomendado participar de eventos como hackathons e encontros de IA, mesmo sem experiência técnica. É uma oportunidade bacana para trocar ideias, aprender na prática e desenvolver soluções inovadoras.
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