O que nos espera ao envelhecer? Aumento de idosos na região oeste de SP expõe desafios emocionais, aponta especialista
23/11/2025
(Foto: Reprodução) É importante adotar alguns cuidados para manter saudável a mente dos idosos
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O tema da redação do Enem, “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, trouxe à tona uma discussão que já faz parte da realidade do Oeste Paulista. Enquanto milhões de estudantes refletiam sobre o envelhecer no país, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que municípios como Presidente Prudente, Adamantina, Dracena, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio (SP) vivem um processo de envelhecimento populacional.
Os dados dos Censos 2010 e 2022 mostram que, em 12 anos, Presidente Prudente viu a população acima de 60 anos saltar de 28 mil para mais de 44 mil moradores — um crescimento de quase 57%. Nas cidades menores o avanço é igualmente expressivo: Adamantina, Dracena e Presidente Venceslau já têm mais de 22% de seus moradores com 60 anos ou mais, índice superior ao de muitas capitais brasileiras.
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Além do aumento no número de idosos, chama atenção a rápida expansão das faixas etárias mais avançadas. O grupo com 80 anos ou mais cresceu entre 50% e 70% nos cinco municípios analisados — um salto que revela não apenas que há mais pessoas acima dos 60 anos, mas que elas também estão vivendo por muito mais tempo.
Esse avanço da longevidade intensifica a necessidade de políticas públicas específicas, serviços de saúde preparados para demandas complexas e redes de apoio familiar e comunitário capazes de acompanhar as mudanças dessa nova realidade demográfica.
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Vida, comportamento e demandas dos idosos
A psicóloga Joselene L. Alvim destaca ao g1 que o país vive uma transformação acelerada.
“Atualmente somos o sexto país do mundo em número de idosos. O crescimento acelerado e o aumento da expectativa de vida geraram também maior demanda por serviços de saúde e mudança na força de trabalho”, explica.
Ela observa que o perfil da pessoa idosa teve uma mudança expressiva. “Atualmente eles viajam mais, praticam esportes, namoram, têm uma vida social mais ativa do que os idosos de décadas atrás. Porém, ainda assim, há muito preconceito e desvalorização social”, analisa.
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Apesar da maior autonomia, o envelhecimento continua envolto em desafios emocionais e sociais. Segundo a psicóloga, “a redefinição de papéis sociais, como a saída dos filhos de casa, é o primeiro deles. Isso gera sentimento de solidão e insegurança quanto ao futuro.” A aposentadoria, a morte de amigos e parceiros e as mudanças no autoconceito também são pontos sensíveis.
Com isso, quadros de ansiedade e depressão são comuns, e muitas vezes silenciosos. “Muitos, mesmo com o sofrimento, não pedem ajuda, pois consideram que incomodam os familiares”, afirma.
Com as perdas e receio de atrapalhar, surge outra questão: a solidão. Esta é uma reclamação recorrente no consultório da psicóloga.
“Observo queixas de sensação de vazio, falta de sentido à vida, que geralmente ocorre após os filhos saírem de casa, após a aposentadoria, ou até mesmo a separação ou morte do cônjuge. Eles relatam muito que preferem ficar em casa e recusam convites para sair”, conta Joselene ao g1.
A falta de motivação para atividades simples, o isolamento e alterações no sono podem ser sinais de sofrimento. E são essas mudanças bruscas de comportamento que a família deve ficar atenta.
“Tristeza persistente, apatia ou irritabilidade, desmotivação para executar tarefas que costumeiramente davam prazer a eles, comentários negativos sobre si, alterações do sono ou do apetite”, cita a psicóloga, incluindo que as dores físicas também podem ser manifestações relacionadas ao emocional.
Preconceitos
Mesmo com o aumento da expectativa de vida e maior participação dos idosos na sociedade, o preconceito contra o envelhecimento permanece forte.
“O preconceito com o idoso ainda existe e ele pode ser visto no ambiente de trabalho, quando privilegia um colaborador mais novo para uma promoção ao até mesmo em novas contratações; quando o ignora em decisões ou conversas familiares, quando desvaloriza sua capacidade pressupondo que ele não consegue aprender porque está velho, as piadas sobre velhice”, aponta a psicóloga.
As consequências são graves: ansiedade, depressão, baixa autoestima e isolamento social.
Para combater o idadismo, a especialista é enfática: “Empatia é a palavra-chave. É preciso compreender esta etapa da vida e entender que apesar das mudanças mentais, físicas e sociais inerentes a esta fase, eles podem desenvolver muitas atividades”, diz.
Grande parte da população de Presidente Prudente possui idades acima dos 60 anos
Emerson Sanchez/TV TEM
Autonomia e participação social
Segundo Joselene, a família tem papel decisivo nesse processo e “pode e deve incentivar a realizar, desde as tarefas do dia a dia até novos cursos e participação em atividades sociais”, estimulando o envolvimento e a conexão com o mundo ao redor.
Ela reforça que essas práticas estão diretamente ligadas a um envelhecimento mais saudável, “para melhorar a autoestima, dar um sentido a esta nova etapa da vida, preservar a identidade, manter a saúde mental e emocional.”
Hábitos simples fazem grande diferença: atividade física regular, estímulos cognitivos, participação em atividades sociais e comunitárias, sono adequado, alimentação saudável e acompanhamento médico contínuo.
“Envelhecer não deve ser sinônimo de preocupação constante ou algo ruim. Com ações simples, é possível viver essa fase com mais leveza e bem-estar, pois ela representa também o início de novas histórias para contar.”
O Brasil está preparado?
A resposta da psicóloga ao g1 é direta: “Ainda não. Falta uma maior conscientização da população sobre esta faixa etária e há lacunas nas políticas públicas.”
No Oeste Paulista, os números mostram que a necessidade de reorganizar estruturas, repensar serviços e ampliar estratégias de cuidado é urgente e crescente. Com mais idosos e idosos cada vez mais longevos, as cidades precisarão adaptar políticas de saúde, mobilidade, moradia, lazer e segurança para essa nova realidade.
Atualmente idosos são mais ativos, acessam internet, fazem atividades físicas e vão a festas
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