'Sucessão de erros e negligência impediram reimplantação do dedo', diz irmã de estudante ferida em escola de SP
26/08/2025
(Foto: Reprodução) Depoimento da irmã sobre adolescente de 12 anos que perdeu dedo após brincadeira em escola estadual da Zona Sul de São Paulo.
Reprodução/Redes Sociais
A irmã mais velha da aluna de 12 anos que teve o dedo decepado dentro de uma sala de aula na Escola Estadual Professor Flavio La Selva, no Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo, fez um desabafo nas redes sociais sobre o caso.
Segundo ela, devido à falta de preparo no encaminhamento da jovem para um hospital adequado na última quinta-feira (21), a menina não conseguiu reimplantar o dedo médio e precisou amputar parte do membro no Hospital Geral do M’Boi Mirim.
A família relatou que a escola enviou a menina para uma UBS levando parte do dedo em um copo, embora a unidade não tivesse condições de atender um caso de tamanha gravidade.
“Após o acidente, a equipe escolar não deu importância, achando que era apenas uma pancada leve. E a menina sofrendo com dor no chão. Quando descobriram que era alvo grave, sem preparo e espantadas com a gravidade da lesão, duas professoras levaram a menina para a UBS mais próxima (Santa Lúcia). Porém, em um caso dessa gravidade, o correto seria encaminhar a menina para um hospital de grande porte. Em caso de amputação, UBS e Ama não tem o suporte necessário para atender algo tão grave, a não ser fazer curativo e dar analgésicos”, afirmou.
“Com a sucessão de erros da escola, UBS e Ama, não houve mais tempo para a reimplantação do dedo médio. Isso impediu a reimplantação. Foi solicitado pelos médicos uma cirurgia para amputação da parte do dedo e fechamento da lesão”, contou Pasternack.
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Pasternack relatou ainda que a jovem foi atendida inicialmente em uma UBS e, em seguida, encaminhada para uma AMA. Somente depois disso foi solicitada a remoção para um hospital de emergência, por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
“Na UBS ela recebeu analgésicos e foi encaminhada para a AMA (Guavirituba), onde novamente informaram que não havia suporte para tratar esse tipo de lesão. Realizaram limpeza e encaminharam para transferência do SAMU. Mas todos sabemos como demora esse tipo de atendimento. Com a demora, a família mesmo retirou a menina na AMA e enviou por conta própria ao Hospital Geral do M’Boi Mirim”, escreveu.
Segundo a irmã da estudante, ao chegar ao hospital a jovem recebeu a pulseira laranja, que indica atendimento de urgência, e teve a internação solicitada. O protocolo prevê que esse tipo de atendimento seja feito em até 60 minutos, mas a menina só deu entrada no hospital três horas depois.
“Os procedimentos foram realizados com sucesso, minha irmã se encontra bem, em repouso e seguindo todas as orientações médicas. Mas o que nos resta é o sentimento de indignação, desrespeito, negligência, descaso e falta de preparo para algo tão grave”, declarou a irmã da estudante.
Bea Pasternack se diz revoltada com a sucessão de negligências e descasos ocorridos no caso. A família acusa a escola de negligência e quer investigação profunda do caso.
“Minha irmã de apenas 12 anos e perdeu o dedo dentro da sala de aula, em um lugar que deveria ser seguro para ela. É revoltante ver uma criança sair da escola mutilada, por causa de uma suposta brincadeira. Isso é descaso, falta de cuidado, é negligência. Onde estava a supervisão? Onde estava a responsabilidade da escola em garantir a segurança dos alunos? Não dá pra aceitar que um acidente tão grave aconteça e tentem tratar como algo normal”, afirmou.
A avó da menina, Zenaide Pasternack, também usou as redes sociais para dizer que a escola estava sem supervisão no momento do ocorrido.
“O diretor nem estava presente. Levaram a menina para o postinho do Santa Lúcia com o dedo dentro de um copo”, disse.
“Não buscamos vitrine ou glamour como o ocorrido. Queremos apenas Justiça. Os danos são irreparáveis e irão interferir por toda a vida. Ressalto que o diretor não estava presente na escola e as crianças estavam sem supervisão”, afirmou a irmã da estudante.
O que diz a Seduc-SP
Escola Estadual Professor Flavio La Selva, localizada na Vila Santa Lúcia, região do Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo
Reprodução/Redes Sociais
Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc-SP) disse que "lamenta profundamente o ocorrido e informa que o acidente aconteceu no retorno do intervalo".
"A Unidade Regional de Ensino Sul 2 lamenta profundamente o ocorrido e informa que o acidente aconteceu no retorno do intervalo. Imediatamente, a gestão da unidade escolar prestou os primeiros socorros e encaminhou a estudante para atendimento médico, acompanhada de um funcionário. Ela teve alta e está bem", afirmou.
"Os responsáveis pelos alunos envolvidos foram comunicados para ciência dos fatos e aplicação das medidas disciplinares cabíveis. O caso foi inserido na Plataforma Conviva-SP, e um profissional do programa Psicólogo na Escola foi disponibilizado para atendimento na unidade", completou a pasta.
A Secretaria da Educação também disse que "repudia qualquer ato de violência, dentro ou fora do ambiente escolar, e permanece à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários".
O acidente
Uma aluna de 12 anos da Escola Estadual Professor Flavio La Selva, na Vila Santa Lúcia, região do Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo, teve o dedo médio decepado na última quinta-feira (21) durante uma suposta "brincadeira" entre colegas de turma.
O acidente aconteceu dentro da sala de aula, em um momento em que não havia professores ou funcionários acompanhando os alunos.
De acordo com funcionários da escola, a aluna do 7º ano teve o dedo preso na porta da sala, que foi fechada com força por outras colegas. A ponta do dedo se desprendeu imediatamente, causando pânico entre os estudantes que presenciaram a cena.
A menina foi levada ao hospital por uma professora que estava deixando a escola naquele momento: “Os alunos que estavam na sala ajudaram na limpeza do sangue, isso é inadmissível”, disse uma funcionária ouvida na condição de anonimato pela TV Globo.
A família da aluna teria sido informada por uma coordenadora que não estava presente no momento do acidente. O pai da estudante chegou a registrar um boletim de ocorrência, mas a reportagem ainda tenta falar com a família da jovem, que teve que passar por cirurgia.
O clima na escola é de consternação entre funcionários e colegas da estudante. Segundo relatos, a única providência tomada até agora foi uma conversa com os alunos sobre a gravidade do ocorrido.
“As crianças disseram que era uma brincadeira: o último a chegar ficaria para fora. No conflito, a porta fechou no dedo dela”, contou uma funcionária.
Os profissionais da escola narram que a direção da EE Flávio La Selva muitas vezes pede para os professores segurarem duas, três salas de aula ao mesmo tempo, em razão da falta de professores e outros profissionais na unidade.
“Não é a primeira vez que situações de incidentes e de violência acontece nesta escola e a direção nada faz. Eles sempre alegam que não se responsabilizarão por nada. De tanto isso ocorrer, uma situação trágica e triste ocorreu na escola”, defendeu uma funcionária.
O corpo docente da escola diz que é preciso mais rigor na punição dos estudantes envolvidos e o caso seja investigado com profundidade pela Secretaria da Educação (Seduc-SP), da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“É preciso fornecer as câmeras da sala de aula para a família, para que eles saibam o que realmente ocorreu no local”, afirmou.
Em 2013, a escola já tinha sido alvo de uma reportagem do SPTV, da TV Globo, que já indicava a falta de professores na unidade (veja vídeo abaixo).
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