Temporada de pinguins-de-magalhães começa no Litoral Norte de SP
12/07/2025
(Foto: Reprodução) Instituto Argonauta já registrou quase 50 encalhes em poucos dias. Especialista cita fatores que explicam aparecimento de juvenis debilitados nas praias. Técnicos resgatam pinguim-de-magalhães encalhado em Picinguaba, no Litoral Norte de SP
O inverno chegou e, com ele, os primeiros visitantes ilustres das praias do litoral norte de São Paulo: os pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus). A espécie, nativa da Patagônia, costuma migrar anualmente para águas mais quentes em busca de alimento entre os meses de junho e setembro.
Neste ano, os primeiros registros foram feitos pelas equipes de campo do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), executado pelo Instituto Argonauta.
Ao todo, 47 pinguins juvenis foram encontrados encalhados nos municípios de Ubatuba (SP), Caraguatatuba (SP), São Sebastião (SP) e Ilhabela (SP). Quatro estavam vivos e foram encaminhados para reabilitação veterinária. Os demais foram recolhidos para investigação sobre a causa da morte.
Pinguim em reabilitação veterinária no Instituto Argonauta
Divulgação Instituto Argonauta
De acordo com o instituto, não há como prever quantos indivíduos aparecerão ao longo da temporada. "Os números mudam a cada ano, levando em consideração o número de nascimentos, as correntes, a disponibilidade de alimento, entre outros fatores", explica Carla Beatriz Barbosa, coordenadora do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) pelo Instituto Argonauta.
A presença dos juvenis na costa é considerada natural, mas preocupante quando em grande número e em condições debilitadas. A espécie realiza a primeira migração acompanhando correntes frias que sobem o Atlântico, e diversos fatores podem dificultar o trajeto.
“Entre os desafios estão as mudanças nos padrões das correntes, a disponibilidade de alimento, a poluição e as doenças. Alguns animais não conseguem acompanhar o grupo e acabam se perdendo. Debilitados, saem da água e são encontrados nas praias”, afirma.
Pinguim encalhado na Praia de Itaguaçu, em Ilhabela (SP)
Divulgação Instituto Argonauta
Além da distância percorrida e da inexperiência, os juvenis ainda enfrentam condições adversas que comprometem sua saúde. “Vários fatores podem determinar o estado dos animais encalhados, incluindo hipotermia, caquexia, anemia, infecções, parasitas e até a interação com lixo”.
Suporte técnico e reabilitação
A boa notícia é que, mesmo com chances reduzidas de recuperação, uma parte dos pinguins resgatados consegue voltar à natureza. “As condições em que os pinguins são encontrados no momento do resgate, em geral, já bastante debilitados, influenciam diretamente no prognóstico e nas chances de recuperação”, informa Carla.
Pinguim-de-magalhães em reabilitação no Instituto Argonauta
Divulgação Instituto Argonauta
Ainda assim, as equipes de atendimento médico veterinário do Centro de Reabilitação e Despetrolização de Ubatuba e da Unidade de Estabilização de São Sebastião, instalações de atendimento do Instituto Argonauta no âmbito do PMP-SP, têm tido sucesso na reabilitação de 10% a 17% dos indivíduos recebidos, que são posteriormente devolvidos ao ambiente.
O PMP-BS é um programa que monitora diariamente o litoral da Bacia de Santos, desde Laguna (SC) até Saquarema (RJ), como parte do licenciamento ambiental das atividades da Petrobras. No trecho entre São Sebastião e Ubatuba, o trabalho é feito pelo Instituto Argonauta, que também conta com infraestrutura especializada para o atendimento dos animais marinhos encontrados vivos ou mortos.
Além dos pinguins, o inverno também é época de aparecimento de outras espécies migratórias. “São comuns os registros de lobos-marinhos, algumas espécies de pardelas e baleias-jubarte, que também exigem atenção especial”, acrescenta.
O que fazer ao encontrar um pinguim?
Os especialistas reforçam que, ao avistar um animal encalhado, a população não deve tocá-lo, alimentá-lo ou tentar devolvê-lo ao mar. A recomendação é manter distância e acionar imediatamente a equipe técnica pelo telefone 0800-642-3341.
É importante lembrar que ações bem-intencionadas, mas inadequadas, como colocar o animal em caixas com gelo ou oferecer peixes, podem agravar ainda mais o quadro de saúde do pinguim.
Educação e conservação
Os animais que, após o processo de reabilitação, não podem ser reinseridos no ambiente natural são mantidos no Aquário de Ubatuba, parceiro do Instituto Argonauta. Além de garantir o bem-estar desses indivíduos, o espaço oferece ao público uma oportunidade de aprender mais sobre a espécie, por meio de atividades educativas e alimentação interativa.
O Aquário também participou da produção do filme “Meu Amigo Pinguim”, baseado em uma história real, e cedeu seus animais para atuar nas filmagens. A obra retrata a amizade entre um pescador e um pinguim resgatado no litoral brasileiro. Batizado de “Dindin”, o animal foi acolhido com apoio do Instituto Argonauta.
Apesar de não estar classificados como ameaçado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os pinguins-de-Magalhães enfrentam ameaças crescentes ligadas à poluição marinha, sobrepesca e mudanças climáticas. Monitorar sua presença no litoral brasileiro é uma forma de acompanhar os impactos ambientais em curso e agir para minimizar os danos.
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